domingo, 29 de dezembro de 2013

IRRESPONSABILIDADE CRIMINOSA




O Espírito Santo e Minas Gerais continuam (dezembro, 2013) com imensas áreas cobertas pelas águas que o Rio Doce não conseguiu escoar. Informam os repórteres, como de costume, que estas foram as maiores chuvas dos últimos trinta anos. E alagamentos e transbordamentos houve em todos os anos.
Quer dizer, em 1993, a natureza já havia dado avisos para que se tomassem as precauções devidas. Em trinta anos, florestas poderiam ter crescido.
Imprudentes, as populações urbanas estimuladas por empreiteiras da construção e por incentivos governamentais tomaram os espaços às margens de rios enquanto os agricultores devastavam os morros e encostas e retiravam do solo as barreiras naturais de contenção e retenção das águas.
Nessa região, existiam árvores que podiam reter até dois mil litros de água da chuva (2m3). O corte de mil árvores significa a liberação de um milhão de litros que escorrem em alta velocidade morro abaixo. Mas foram milhões de árvores arrancadas. A simples aritmética poderia ter sido um instrumento útil na mão de agrônomos.
A essas funções extintas das árvores, conter e reter água, some-se o papel das raízes dessas mil plantas arrancadas do solo deixando-o desprotegido. A trama das raízes, que se entrelaçavam, mantinham a coesão do solo e impediam o desmoronamento e o deslizamento de grandes e pesados volumes de terra e pedras.
Milhares de árvores foram substituídas por cafezais e pastagens cujo tipo de vegetação é inadequado para cumprir a função das matas ciliares, dos morros e encostas.
São falhas graves dos agentes econômicos do Ministério da Agricultura, da Embrapa, das Emateres, das cooperativas agrícolas, da Confederação Nacional da Agricultura, das associações de pecuaristas e cafeicultores.
É sempre tempo de debelar a ignorância ambiental e a irresponsabilidade criminosa dos promotores do crescimento econômico a altos custos ecológicos e ambientais se pensarem em seus netos e bisnetos.
Há que se impor, não apenas pela lei da prudência, pelo princípio da precaução e da racionalidade, mas e principalmente pelas leis na natureza, o plantio imediato de árvores nativas para formar barreiras e cortinas vegetais protetoras do solo.
As medidas pós-catástrofes serão paliativas e repetitivas, não adequadas como solução. Vidas, culturas, casas, bens de uso humano continuarão indo águas abaixo.

Talvez, daqui a trinta anos, se voltarem as árvores, os repórteres terão outra mensagem a dar diante de chuvas torrenciais.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

É HORA DE ACORDAR


Espero que a população e os governos compreendam que as enchentes atuais do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro são um aviso estridente de que as mudanças climáticas bateram às nossas portas.
As perdas de vidas humanas e de milhares de outros seres vivos são frutos da irresponsabilidade de todos. Os ataques ao ambiente, nesses últimos cem anos, exauriram as forças do bioma local que se tornou impotente para assimilar o desgaste sofrido e o volume de águas das chuvas abundantes.
A cegueira ambiental tem cura, mas é preciso reconhecê-la com humildade. Se não, continuaremos a perder a riqueza material na qual ilusoriamente se fundamenta o bem-estar, a qualidade de vida e a abundância.
Falta perceber que essa riqueza material roubou à natureza os meios de dar a todos os seres vivos a oportunidade da sobrevivência que é a base da felicidade humana. Matamos indiscriminadamente as fontes de nossa vida e de nossa felicidade. As imagens mostraram imensas áreas devastadas. Onde está a vegetação protetora do solo? Onde estão as árvores?
É hora de os grandes mentores da economia, dos administradores da coisa pública e da população acordarem e desvendarem os olhos.
O precipício anunciado está a poucos metros e muitos já caíram nele.
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Nota: Sou ecossociólogo, naturalista e escritor. Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).

domingo, 22 de dezembro de 2013

SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS




As chuvas, mais abundantes neste ano, especialmente no Sudeste, pelas consequências desastrosas que afetam as pessoas, indicam nossa ignorância sobre os fenômenos da natureza.
Tratamos o ambiente em que vivemos como se tudo estivesse sob nosso comando. Fatal equívoco.
As mudanças climáticas se produzem diante de nossos olhos e continuamos cegos. Só vemos as águas depois que arrastaram pessoas e seus pertences. Não sabemos prever e nem nos preparar para enfrentar fenômenos que a natureza produz há milhões de anos.
A experiência que acumulei com a preservação de uma área de cerrado (70 hectares, DF) ensinou-me que, antes de qualquer ação humana sobre o ambiente, é necessário compreender o comportamento e as consequências dos fenômenos naturais.
Quarenta anos de observação e cuidados nessa área reduziram à mínima expressão a possibilidade de erosão ou de catástrofes que possam afetar o equilíbrio natural do ambiente.
Os erros da urbanização e da agricultura estão na devastação irracional das barreiras verdes e da vegetação nativa, no desenraizamento protetor do solo e no desvio múltiplo dos cursos de água.
Somos todos responsáveis. Os que devastam e os que permitem a devastação. É afirmação antiga e nunca levada a sério: um real gasto em destruir ou modificar o ambiente exige cinco para recuperá-lo apenas em parte.

Essa atitude da população e das administrações públicas demonstra ignorância e irracionalidade ecológica e ambiental. Estamos todos condenados a pagar, sem direito a recurso aos tribunais superiores, os débitos atrasados devidos à natureza inerme.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

LÓGICA INVERTIDA




As medidas econômicas, especialmente as que se relacionam com o item sonho e símbolo do sucesso social – o automóvel – inverteram a lógica da segurança pessoal física e psicológica.
Um episódio relatado por um amigo mostra a inversão da lógica de segurança pessoal ameaçada por sequestradores e ladrões. Encontrou-se ele com amiga que havia trocado seu carro novo por um Hyundai Tucson de quase 18m3, com vidros escuros intransponíveis e blindados. Indagada a razão da troca, ela respondeu: por segurança.
Inverteu-se a lógica. A segurança é oferecida ilusoriamente pelo automóvel e não pelas racionais e emocionais atitudes de convivência entre seres inteligentes, por processos educativos de respeito e definição social de limites da liberdade.
A nova lógica de segurança é a de proteção seletiva, reforçando a desigualdade social. A maioria fica exposta à saga da insegurança que tem parte de suas raízes na garantia de privilégios. Nem de airbag e freios ABS precisam os que foram enquadrados artificialmente na categoria de salários acima da linha de pobreza, também dita classe média ou D e E, estimulados a adquirir o troféu do sucesso social.
Atravessamos a era mesozóica da cegueira social, da surdez econômica e da gagueira política.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

OURIÇO SUSTENTÁVEL




(Foto: ouriço ou porco espinho)

À noite o ouriço nos divertiu roendo mangas verdes em busca da amêndoa seu quitute preferido. Deixou a frente da casa coalhada de pedaços de manga cuspidos lá de cima. Depois de comer a amêndoa, joga o resto no chão. É muito hábil. Cospe como gente.
Ele se satisfaz ou contenta com as amêndoas de apenas meia dúzia de mangas. Diferentemente dos humanos, ele conhece o limite da comida disponível. A mangueira deste lugar onde ele nasceu, se criou e vive só dá frutos uma vez ao ano. Na falta de mangas, sai à procura de outras frutas e brotos.
Os promotores do crescimento econômico ainda não querem acreditar que as riquezas de nosso planeta têm limites e são finitas. Os ouriços já descobriram essa realidade há milhares de anos e vivem felizes. Enquanto os humanos não substituírem mangueiras por eucaliptos ou milhares de árvores frutíferas do cerrado por soja não sossegam. Pensam que sem devastar a natureza a felicidade não seja possível.

É bom aprender a sustentabilidade com os ouriços e tomar nota desde já que as riquezas do planeta são limitadas. É bom também lembrar que depois de nós ainda virão bilhões de seres vivos que desejam sobreviver e se reproduzir neste paraíso terráqueo.

sábado, 14 de dezembro de 2013

ÁGUAS DE NOVEMBRO 2013/2012




Foto: As águas não têm para onde ir.

A leitura da precipitação pluviométrica começou a ser feita no Sítio das Neves no mês de novembro de 2012 com a instalação do pluviômetro pela Agência Nacional de Águas.
No mês de novembro, 2012, no Sítio das Neves, a precipitação foi de 228,3 mm, ou seja, 228,3 litros por metro quadrado. Esse volume dá uma média diária de 7,61 litros por metro quadrado. O volume  diário ou total deve-se multiplicar pela área do Sítio que é de 700.000 metros quadrados.
No mês de novembro, 2013, a precipitação foi de 304,44mm, ou seja, 304,44 litros por metro quadrado. Esse volume dá uma média diária de 10,14 litros por metro quadrado.
O volume total de água, no mês de novembro, 2013, foi de 213,108 milhões de litros (213, 1 metros cúbicos) na área do Sítio das Neves. Neste ano, o mês de novembro trouxe 76mm a mais do que em 2012. As enchentes por toda parte do país têm explicações. E não foi por falta de avisos e previsões.

COMPARATIVO 2012/2013 (em mm) no Sítio das Neves
NOVEMBRO 2012
NOVEMBRO 2013

TOTAL
228,3m
304,44



SEQUÊNCIA DE CHUVAS EM 2013
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro

TOTAL
3,1mm
42,3mm
179,55mm
304,44mm


529,39








De agosto até o fim de novembro, o Sítio foi favorecido com 370.573.000 litros de água (370.570m3)proporcionando boa recarga dos aquíferos graças à vegetação intensa e o sistema de barragens para contenção, captação e retenção das águas.


Nota: Sou ecossociólogo, naturalista e escritor. Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O MESTE E MARGARIDA

O LIVRO DE MIKHAIL BULGÁKOV (RUSSO) - O MESTRE E MARGARIDA - É ANÁRQUICO, IRÔNICO, HUMORISTA, ZOMBETEIRO, GALHOFEIRO, IRREVERENTE, SURPREENDENTE, COM PERSONAGENS DESEQUILIBRADOS, LOUCOS, BÊBADOS, BRIGUENTOS, CORRUPTOS, NUM CENÁRIO CANDIDAMENTE RUSSO.
PARECE QUE O VELHO DE PENEDO E ARNALDO BRANDÃO BEBERAM DA MESMA FONTE SALUTAR.

VALE A LEITURA POR PRAZER.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O ADVÉRBIO COMO



As propostas, as discussões e a prática sobre a preservação da ideia essencial do Projeto do Dr. Lúcio Costa para a construção da nova capital dividem as opiniões de especialistas confrontadas com as dos administradores da cidade de Brasília que se esparrama por 5.822 km2.
O Dr. Lúcio Costa, ao traçar as linhas do Plano Piloto, provavelmente descurou de como esse projeto sustentaria a ideia genial nele contida. Até onde vai a responsabilidade do eminente arquiteto?
O conceito de país continental deve ter influenciado os traços do desenho monumental das obras de Oscar Niemayer. Acostumados ao pequeno e ao pobre, a imensidão dos espaços bucólicos que dão o caráter de grandiosidade do Plano Piloto soa, aos ouvidos da burocracia apática, dominada por interesses privados, como um desperdício a ser evitado.
Espaço livre, liberto da ação individualista do cidadão não é o mesmo que espaço desocupado ou degradado. Estranhamente, os administradores da cidade ignoram o sentido de bucólico e são atraídos por espaços desocupados. Ignoram o sentido de espaço livre e liberto no conjunto urbanístico. Trata-se de zonas liberadas que representam a ação grandiosa da natureza para dar solidez à relação do cidadão com todos os demais seres vivos vegetais e animais que integram o mesmo espaço.
As distintas instâncias do concurso que aprovaram a grandiosidade simples do projeto do Dr. Lúcio Costa talvez tenham dado pouca atenção ao advérbio modal para a preservação futura da ideia expressa no desenho arquitetônico. Como se sustentaria a magnificência do projeto da nova capital e por quem?
Para onde e para quem se dirige o como? Por que, de tempos em tempos, surgem propostas para adaptar a preservação do conjunto urbanístico de Brasília reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura? Por que esse reconhecimento mundial não é suficiente para garantir a preservação das características principais da capital?
O PPCUB está propondo um como amplo, geral e irrestrito. Está sendo proposto por oficiais de gabinete, unindo burocracia, política e interesses econômicos privados. É uma iniciativa capciosa e ardilosa acenando para a “melhoria da qualidade de vida dos brasilienses”. Essa afirmação do porta-voz da Seduma faz supor que “ocupar a orla do Lago e democratizar o espaço” melhora a qualidade de vida dos moradores de Samambaia, da Estrutural e do Sol Nascente.
Brasília, e especialmente o Plano Piloto, está virtualmente entregue a competentes arquitetos. Conheço mais de uma dezena de profissionais experientes que manifestaram suas opiniões e críticas em artigos, blogs e várias coleções de estudos e análises contidos em livros. São raros os artigos escritos por arquitetos e geógrafos em que uma das afirmações contundentes não seja a ausência de planejamento urbano em Brasília. Mas como? Quem é responsável pelo planejamento urbano? E, quando se fala em urbanismo, qualquer voz que não seja de arquiteto tem pouca chance de ser levada em consideração.
Quem mais poderia ser ouvido de forma ampla, geral e irrestrita além dos professores de faculdades de arquitetura, arquitetos do Iphan, do IAB, do IHG/DF, do Grupo de Urbanistas por Brasília no sentido de fazer valer a promessa de melhoria da qualidade de vida dos brasilienses sem descaracterizar as ideias básicas do projeto do Dr. Lúcio Costa?
Perguntei, hoje, à minha diarista, que enfrenta seis horas de ônibus, dos confins de Valparaíso ao Plano Piloto, para chegar ao trabalho e voltar a casa, se estava a par ou se ouvira mencionar PPCUB, PURP, AE, AP, UP, PDOT, LUOS. Não sei! – disse. E ninguém mais do que ela, suponho, está interessada na “melhoria da qualidade de vida”.
Um dos quesitos essenciais, se não o essencial, é a água que garante o verde que acumula água. Nas 118 páginas e nas 795 folhas, contendo 72 planilhas, nas quais se propõem intervenções cruciais, salvo distração de minha parte, ignora-se o quesito água.
Na prática, em todos os projetos urbanísticos mais recentes, desde Samambaia, Sudoeste, Noroeste e da orla do Lago, o item água foi ignorado na origem e acenado como característica distintiva e ecológica por meio de captação de parte de águas da chuva para uso público. Lembro que os recentes projetos de uso do solo em áreas degradadas, dentro de Paris – La Villette e Georges Bressans (Vaugirard) – tiveram como ponto de partida, e merecendo menção especial, a preservação e o tratamento de nascentes de água nessas áreas.
Os córregos que cortam ou cortavam o DF e as centenas de nascentes extintas são uma claríssima indicação de que os projetos urbanísticos ignoram o elemento água essencial para a sobrevivência humana. Ao impermeabilizar uma área significa impedir a infiltração de água no solo e a recarga dos aquíferos, implica em diminuir a umidade, reduzir a biodiversidade e degradar a saúde. Na precipitação anual média de 1.250mm, no DF, cada módulo impermeabilizado de 100m2 impede a infiltração de 125 mil litros de água (125m3). Calcule-se, então, a área impermeabilizada dos 112 milhões de metros quadrados que correspondem à área tombada pela Unesco e se compreenderá a extensão do desastre ecológico. As inundações, em qualquer canto de Brasília, são indicativas do descaso se não da ignorância do volume de águas da chuva e de sistemas de captação em grande escala para uso coletivo.
Resta, então, o advérbio modal: como preservar o conjunto urbanístico de Brasília? Só uma frente popular –  cidadãos de Brasília – reunida na Esplanada, no Eixo Monumental, na orla do Lago, na DF-140, no Sol Nascente, ampliando o corajoso Grupo Urbanistas por Brasília, Movimentos Nossa Brasília, Movimento em Defesa de Brasília, SOS Parque Olhos D'água poderá deter a ignorância administrativa e controlar o ímpeto, a ambição e a auri sacra fames da indústria imobiliária e dos apologistas do confuso sistema viário que conduz ao precipício social.



Nota: Sou ecossociólogo, naturalista e escritor. Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa (3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).