quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PONTOS NOS IIS

A tropa de choque do partido do governo atual – PT – inclui sociólogos, economistas, professores universitários, juristas, servidos por um exército de Ípsilones, também chamados base militante. No entender da militância petista, 40 milhões de brasileiros (20% x 80%) que se opõem ao comportamento ético, político e ideológico dos operadores da máquina governamental são uma minoria desprezível, resto da divisão. Nesse grupo desprezível não entra boa parte da elite econômica, beneficiária do liberalismo, dos privilégios financeiros, bancários e fiscais.
O ponto central da discussão oferecido pelo catecismo petista gira em torno do conceito difuso e impreciso de mudança, associado ao modelo e ao aparato montado para levá-lo a termo. A base desse modelo de mudança é a presença de um trabalhador na chefia do governo. Quem critica o governo é preconceituoso, classista e reacionário. A estrutura da mudança está na mobilização social e econômica da “massa” − expressão sociológica dos ideólogos da esquerda petista.
Essa mobilização se faz por um mecanismo de propulsão – poder aquisitivo – que atua simultaneamente nas distintas camadas da população, mantendo cuidadosamente a separação de classes. O mecanismo do poder de compra está adequado à camada da “massa” a ser atingida. A camada da população miserável, abaixo da linha de pobreza, isto é, famélicos, subnutridos e infectados de doenças decorrentes do estado de miséria está sendo assistida por um complexo vitamínico de socorro consolidado no cartão magnético Bolsa Família que juntou formas anteriores de ajuda humanitária. O valor atual do benefício por pessoa é, hoje, de R$ 15,00 por mês, garantindo o sustento mínimo. O montante global do programa de 10 a 12 bilhões de reais, por ano, serve para mobilizar pequenos empreendimentos comerciais locais. O número de famílias dessa camada, ao longo de oito anos, tem aumentado ao invés de diminuir. Neste ano de 2010, o número de beneficiados passou de 12 para 13 milhões de famílias.
Nessa mesma camada, abaixo da linha de pobreza, o atual governo continuou e intensificou a extensão da aposentadoria por idade, já iniciada em administrações passadas, alcançando milhares de idosos na área rural e na periferia de grandes cidades. O incremento da renda melhorou o poder de compra de milhões de cidadãos. O sistema estatístico recente os transferiu para cima da linha de pobreza, apresentando uma cifra de 30 milhões, sem afetar, no entanto, o contingente de miseráveis abaixo da linha de pobreza, sustentados pelo programa Bolsa Família.
Os ajustes consecutivos do salário mínimo, acompanhando a meta da inflação, a geração de empregos, graças às circunstâncias favoráveis da economia mundial, o aumento de funcionários públicos bem remunerados produziu uma explosão na classe média favorecida com créditos fáceis e isenção temporária de impostos sobre produtos industriais.
A estratégia do modelo ideológico da mudança centrou-se no consumo compulsivo e exacerbado em todos os setores da economia, estimulado pela política financeira do governo, fortalecida pela indústria, pelo comércio e pela intensa e entusiástica propaganda dos meios de comunicação. Os ideólogos do PT, na atual campanha eleitoral, ensinaram a receita do êxito do governo: estimular o cidadão a passar da classe média baixa para classe média e desta para a classe média alta, através da aquisição do carro zero, da casa própria, do celular e da inclusão digital. Portanto, manter a divisão e o conceito de classes separadas, com distintos graus de acesso aos bens de consumo, preservando a massa como espaço político de manobra.
Quando o metalúrgico Lula, depois de tentativas frustradas, encontrou grande parte da população amadurecida para impulsionar mudanças impostergáveis, estavam na pauta de debates públicos, espontâneos ou organizados, três frentes estratégicas de ação: a linha da pobreza (aspecto econômico de sobrevivência urgente); linha da ignorância e do atraso (aspecto social e ambiental, educação fundamental e profissional); linha da participação política nas decisões governamentais (contra o pensamento único) por meio de variada gama de organizações populares, do planejamento (orçamento participativo) ao controle de processos e resultados setoriais e globais.
Nestes últimos 16 anos, o Brasil teve êxitos econômicos, financeiros, tecnológicos e materiais, importantes, com fracasso na infraestrutura, mas deu passos curtos para sair do atraso social e cultural. As evidências desse fenômeno não precisam de pesquisas para sua comprovação.
O equívoco do atual governo foi determinar que o Brasil foi descoberto em 2003 e terminará em 2014. Parou na primeira linha por falta de leitura histórica e ameaça a sociedade com o modelo fascista de impor-se pelo poder absoluto e indiscutível. Propõe uma direção única, controla os debates, abafa e elimina as críticas e ideias opostas à ideologia do crescimento insustentável.
O avanço da adesão ao discurso e propostas de Marina Silva é um sinal amarelo a caminho do verde.

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