terça-feira, 21 de setembro de 2010

CONTRASTES

Volto ao Sítio das Neves, meu refúgio na orla rural do DF, depois de 30 dias de ausência. Percorri regiões do interior da Finlândia, França, Estônia e Letônia. Estas duas, parcialmente destruídas pela economia soviética durante décadas, desrespeitosa da delicada natureza do Golfo que as banha.
Ao ligar a TV, ansioso por saber como atuam os figurantes desta Zorra Total, ouço uma postulante ao cargo de comandante do avião presidencial, sorriso vitorioso, informar aos telespectadores do horário de propaganda eleitoral que, enquanto “os países lá fora se quebravam, aqui nós gerávamos empregos e fazíamos a economia crescer”.
A um povo anestesiado pode-se afirmar qualquer coisa menos o intrincado vaivém dos fatos como eles são. Tem razão a postulante. Todas as economias dos países do planeta enfrentam dificuldades para dar trabalho à população que cresce e se espalha pelo mundo. Mas em todos eles geram-se empregos e demitem-se empregados. Há aviões voando, trens e ônibus circulando, automóveis rodando, restaurantes servindo alimentos, supermercados abertos 24 horas, bancos emprestando dinheiro e cobrando juros, pastores e bispos implorando dízimos em todos os países. A economia rola. E quando se fala em economia, tem-se a impressão de que o Brasil é o único país no mundo. Alguém sabe como anda a economia de nossos vizinhos, Colômbia ou Peru?
Mas...há países cujos governos usam honestamente as estatísticas para informar o número de empregos oferecidos e o número de empregados demitidos. No Brasil, nos últimos anos, só se conhece o número de empregos oferecidos com carteira assinada. Um número ufanista, jogado no ar, para produzir uma bolha ilusória e enganadora. Os demitidos com ingresso na economia informal, embora constem de estatísticas, não aparecem nos noticiários com a mesma frequência. Quantos e onde são demitidos diariamente? Qual é e como cresce o salário desemprego?
Mas... enquanto em todos os países que visitei a economia resiste por força da sobrevivência, há um crescente aumento do respeito à natureza. Enquanto esses países aumentam a extensão de suas florestas corrigindo os erros do passado, nosso país avança com motosserras pelo Cerrado e pela Amazônia e sufoca-se na fumaça das queimadas irresponsáveis. Enquanto, no Brasil, máquinas arrasam nossos biomas, na França, criam-se, em áreas de grande produção de cereais, corredores de florestas para captar as águas da chuva e restabelecer o equilíbrio ecológico.
Na França, as linhas de metrô se estendem e se multiplicam. Cruzam o rio Sena por cima e por baixo, privilegiando o transporte público, rápido e limpo, urbano e interurbano. No Brasil, se facilita o crédito, se prolonga o prazo de pagamento e se mitiga o juro para nutrir o sonho do carro zero como última e mais importante conquista da cidadania.
Se o sonho do brasileiro, por artifícios estatísticos, se contenta em passar da Classe Pobre à Classe Média, e desta para a Classe Média Alta, como ensina a ideologia da nova esquerda liberal para continuar no poder, a pobreza de espírito nos castigará severamente nos dias futuros.

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