quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ÉTICA PRAGMÁTICA ESQUERDISTA

Em resumo, o esquerdista convicto propõe ideias e medidas que façam da justiça e da igualdade de oportunidades os pilares de uma sociedade de relações solidárias.
Na prática, quando suas convicções ainda o animam, combate os privilégios, alinha-se aos que menos participam dos ganhos e das riquezas por eles também produzidos. Estabelecem critérios de distribuição equitativa dos bens de produção e consumo, tendentes a reduzir as desigualdades em atividades essenciais da existência do ser humano: educação, saúde e integração com a natureza.
A mudança de paradigma na construção de uma sociedade igualitária, na essência de suas relações, é lenta e precisa ser persistente. O confronto e o conflito entre justiça e injustiça, no curso da história, pendeu a premiar o lado mais forte.
Os esquerdistas mais convictos mantiveram sua organização navegando contra a corrente como consciência crítica de resistência enfrentando a onda de privilégios que inunda a sociedade.
Os esquerdistas pragmáticos optaram pela maquilagem das instituições e aderiram às conveniências de que o poder político, manipulado com esperteza, cinismo e estatísticas duvidosas, pode minimizar as desigualdades sem tocar nas causas estruturais que as sustentam.
A ética do esquerdista pragmático se corrompeu pelo adesismo ao comportamento geral, justificável diante das circunstâncias, limitando-se ao que e onde seja possível mudar para equilibrar as condições de permanência no poder. A um trabalhador ameaçado de perder o emprego propõe-se a diminuição de seu salário para continuar produzindo lucros. A um operário demitido paga-se uma compensação mínima temporária. Aos desempregados crônicos, classificados como pobres e miseráveis − 60 milhões − dispensa-se uma esmola de sobrevivência.
A.ética do esquerdista pragmático que propunha cerrar fileiras com os oprimidos para a conquista da justiça e do direito comum, correndo os mesmos riscos, não se intimida em receber indenizações polpudas, pensões vitalícias, além da retomada de empregos oficiais dignamente remunerados e a respectiva correção salarial da categoria profissional a que pertence.
A ética do esquerdista pragmático sustenta-se na retórica fina e na letra dúbia das leis “que aos fracos abate e aos fortes só sabe exaltar”. Ele conquistou um lugar na sala da nova cristandade política, lutando pelos fracos e disputando uma cadeira à esquerda do Pai Eterno graças aos favores recebidos da direita.

OPORTUNIDADE PERDIDA

Declarou-se, em discursos oficiais, em entrevistas de cientistas políticos, em tom de desespero para uns e de triunfo para outros, que a era do neoliberalismo se esgotara na crise financeira mundial com epicentro nos Estados Unidos da América.
Diante da catástrofe anunciada, o Estado foi chamado e obrigado a intervir na economia desastrada dos operadores do capitalismo. A confiança neles, como orientadores e executores da poupança e investimentos alheios, ficou abalada. Bancos, empresas imobiliárias, indústrias de automóveis foram socorridos com grossos bilhões tirados dos tesouros nacionais. Bilhões que saíram do nada, pois antes não existiam para serem aplicados em educação, saúde, meio ambiente, pesquisas biológicas em benefício da humanidade.
No Brasil, a esquerda no poder, um operário Presidente, com 84% de popularidade, perdeu a oportunidade histórica de dar um passo decisivo na direção do socialismo social, mais ousado do que o necessário e benéfico auxílio do Bolsa Família.
Perdeu a ocasião de garantir um cenário de esperança na construção da igualdade social. Faltou ao Sr. Lula coerência com suas origens em defesa dos trabalhadores, da classe-média e da multidão de pobres e desempregados em todas as regiões do Brasil. Faltou à esquerda brasileira no poder um oportuno plano de mudanças para a ocasião que se apresentasse.
Perdemos todos o momento histórico da virada na direção das mudanças fundamentais que orientariam o futuro do país.
Enredado na trama do capitalismo tupiniquim, preso ao discurso tradicional dos detentores do poder econômico e adoradores do PIB, inebriado por alianças partidárias comandadas por figurões da política corrupta, o Sr. Lula abriu os cofres para bancos, montadoras de automóveis e seus acólitos, aos exportadores que especularam com moedas em vez de produtos.
Perdeu o Sr. Lula e perdeu o país a oportunidade de aplicar esses bilhões − ninguém sabe ao certo quantos são − em áreas vitais para os brasileiros. Se o Sr. Lula e o exército de assessores formados na resistência à ditadura militar, ex-comunistas e guerrilheiros, tivessem algum plano de mudança, ao qual se referiam quando eram oposição, alguns bilhões desses que foram aos bancos e às montadoras teriam sido aplicados na educação fundamental, na preparação e remuneração digna de professores, manutenção de escolas integrais recomendadas e instaladas por Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, e erradicação do analfabetismo.
Esses bilhões mudariam Bolsa Família em Bolsa Trabalho, visando à reconstrução de vias, construção de casas populares em mutirões comovedores.
Fortaleceriam o cooperativismo de crédito não especulativo, de produção e consumo.
Reflorestariam a Mata Atlântica, o Cerrado degradado, a Zona da Mata pernambucana e sustentariam a floresta amazônica.
Modernizariam hospitais, postos de saúde, laboratório de pesquisa e inaugurariam uma campanha de planejamento familiar inteligente e eficaz junto à população com pouco acesso à informação e reduzida consciência das dificuldades geradas pelo crescimento populacional.
O Sr. Lula, os esquerdistas, socialistas, comunistas e ex-guerrilheiros no poder preferiram premiar os especuladores ineficientes que vivem como nababos por conta do dinheiro público e dos impostos nacionais.
As esquerdas aprenderam com o sindicalismo a negociar aumento salarial e, na agenda das negociações entraram princípios, convicções, ética, socialismo social e político. Tudo foi negociado em troca do poder absoluto.
Faltou à esquerda brasileira inteligência política para captar o momento oportuno na condução da economia em benefício do povo. Fomos enganados. Cometeu-se um equívoco histórico.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DESAFIOS DA SUPERPOPULAÇÃO

Atender aos reclamos e às necessidades de uma superpopulação é, hoje, um desafio para países ricos e pobres. Uma grande população rica não quer perder os privilégios adquiridos com a acumulação pública e privada da riqueza. A população pobre mendiga, reclama e pressiona, com seu poder amedrontador do pouco ou nada a perder, para obter as sobras que não fazem falta aos ricos.
Diante da superpopulação chega-se tarde em quase todos os domínios dos serviços essenciais de nossa época. É assim na China, nos Estados Unidos, no Brasil.
Na educação, mesmo que haja escolas para abrigar numericamente todas as crianças e jovens, o Brasil mantém altos índices de analfabetismo e baixíssima qualidade da aprendizagem. Há duas escolas. O educandário privado, comercial, lucrativo, para a pequena parcela que pode ou se obriga a pagar por razões sociais e de classe. A escola pública é reservada à população agrícola, aos trabalhadores e à vasta camada à margem do núcleo ativo da economia. Cumpre apenas, na maioria dos casos, um dever formal do Estado sem mencionar as disparidades da qualidade no seio dessas mesmas escolas. Uma das tremendas dificuldades de acesso dos usuários das escolas públicas é o transporte, efetuado perigosamente, pouco diferente do carregamento de animais e produtos agrícolas.
Não é, certamente, má vontade dos professores ou do ministro da educação. Sãos os desafios naturais da superpopulação. Há os que veem vantagens políticas em manter boa parte da população submissa à desigualdade. Ninguém no governo ou na sociedade se antecipou a pensar nos desafios de uma superpopulação. Não há instrumentos nem habilidades instaladas para administrar grandes populações. E os que porventura existam, são insuficientes para administrá-las. O argumento acaba sendo a míngua de recursos disponíveis, acrescida da justificativa estatística de que o montante orçado para a educação aumenta em algum percentual ano a ano.
Nossa população aumenta em três milhões de pessoas por ano e somam-se aos 10 ou 15 milhões de adolescentes que não conseguem terminar o curso secundário. Um grosso montante da população chegará tarde à mesa da cidadania porque se chega tarde a ele.
E assim se repete a desigualdade na prestação dos serviços de saúde, na criação de oportunidades de trabalho, na diferença de salários, na segurança individual e pública, no transporte urbano.
A desigualdade se consolida e passamos a aceitar os critérios de aumento do salário mínimo, complementado por benefícios sociais. É tudo o que se pode oferecer à superpopulação com a ajuda de índices estatísticos generosos para apaziguar a consciência coletiva.

OUVINDO A NATUREZA

Neste tempo em que o dinheiro vale mais que as árvores e a riqueza desmedida, mais que os mananciais de vida pura, ouvir o gemido de um poeta exilado pela tuberculose em Campos do Jordão, é como penetrar devagarzinho num bosque silencioso.


Aqui, na solidão destes pinheiros graves,
Eu venho muita vez, a sós pela noitinha,
Ouvir a natureza incompreendida, a minha
Amada, a minha amiga, a minha confidente.

Ouvir a natureza! Esse gemer plangente,
Essa apagada voz de surdinas estranhas,
Que vem dos ribeirões, que sobe das montanhas
E acorda dentro da alma em nossa soledade
Um místico pungir de mágoa e de saudade.

Ah! Cada árvore tem uma íntima linguagem.
Ah! Cada árvore tem fremindo na ramagem
Uma alma como nós que nós não vislumbramos,
Mas que vibra no ar e palpita nos ramos.

Já repararam como as brisas vespertinas
Sopram, e como a gemer, sofrem as casuarinas?
E choram os chorões? Soluçam os pinheiros?
Murmuram os ipês e cantam os coqueiros,
Quando o vento ao passar, balouça-os palma a palma?

Homens reparem bem que as árvores têm alma!
Reparem que à noitinha, à luz do lusco-fusco,
O ruído, os sons, a vida estancam-se de brusco
E cada arvore fica imersa num cismar
De quem compreende e sente a dor crepuscular.

Oh! Vós que respirais a poeira da cidade,
Jamais entendereis a doce suavidade,
A música dorida, a estranha nostalgia
Que vem da solidão quando desmaia o dia.

Vós nunca entendereis a rude grandeza,
Essa infinita paz, essa infinita tristeza
Que sai do coração da mata bruta, quando
Resplandecem no céu os astros palpitando.

É preciso viver longe da turba humana,
Longe do mundo vão, da vida insana,
Para sentir, amar, ouvir essa tristeza
Que exala ao pôr do sol a maga natureza.

Ah! Quanta vez eu fico a sós, pela noitinha,
Ouvindo a solidão, a inspiradora minha!
Ouvindo o pinheiral com seu gemer infindo,
Ouvindo a noite, ouvindo as árvores, ouvindo
Os ventos e, na volta exígua de uma curva,
Ouvindo o ribeirão de correnteza turva,
Que vai, soturno, animando o estrépito das águas,
Consigo rebramando incompreendidas mágoas.

E assim, no ermo da tarde, escutando, enlevado,
Esse vago murmúrio, esse rumor sagrado,
Eu quedo-me a cismar num êxtase de crente,
Como se eu estivesse a ouvir confusamente,
A própria voz de Deus ecoar na solidão,
Povoar a Natureza e encher meu coração.

Paulo Setúbal

BRASÍLIA FUTURISTA

Brasília nasceu moderna, simples, natural, monumental como as montanhas, o planalto, o horizonte. Nela, o homem pequeno, insignificante, e ao mesmo tempo grandioso, ao lado de sua obra. Um pigmeu passeando silencioso entre os monumentos que o incitavam a erguer-se na solidão do espaço e desfrutar da paz que os numes do Cerrado lhe ofereciam.
Brasília atraiu mais gente do que o desejável. Muita gente. Vinham à procura do sonho, da fantasia, da utopia da fraternidade socialista, da igualdade, da liberdade urbana.
A multidão, envolta no barulho, na azafama, na sofreguidão da ganância, perdeu o rumo do sonho, esqueceu-se da fantasia, abandonou a utopia e tomou a pista dos próprios desejos individuais, das ambições pessoais.
Hoje, a Brasília moderna caiu semimorta no vale pós-moderno, impreciso, indefinido. Brasília entrou na fase futurista de qualquer cidade-formigueiro, também chamada megalópole ou metrópole pisoteada pela marcha da multidão.
O futuro de Brasília é previsível. Examinem-se os projetos urbanísticos e se verá onde se concentram os interesses e as decisões do governo estimulado pelos perseguidores do lucro abundante. Novos bairros sobre uma natureza frágil, vias para o trânsito intenso, viadutos, trilhos no lugar de árvores, avenidas para o desfile de milhares de automóveis.
Estamos adaptando o sonho sonhado há cinquenta anos para o pesadelo futuro. A isto os especialistas estão denominando de modernização e adaptação de Brasília para atender as demandas sociais da multidão.
Quem ousa defender as árvores contra a loucura das motosserras, proteger as nascentes de água ou advogar o direito do brasiliense de andar a pé?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

MODERNIZAÇÃO DE BRASÍLIA

Dizem os especialistas, leia-se arquitetos e urbanistas, que preservar a cidade de Brasília não impede sua modernização. Acrescentam, colocando-se eqüidistantes das polêmicas recentes, que adaptações são necessárias para acompanhar o aumento da população e suas novas demandas sociais.
Cidadão habitante de Brasília, desde 1972, tento compreender o que esses especialistas incluem na palavra modernização. Vou restringir-me aos dois pontos mencionados acima: aumento da população e demandas sociais.
A introdução de centenas de semáforos seria um dos elementos de modernização? Não existiam quando decidi morar em Brasília. A cidade ampla, silenciosa, monumental, rudemente vegetal, bucólica foi invadida por condutores de automóveis antes que a inteligência administrativa e planejadora se antecipasse com um eficiente, confortável e moderno sistema de transporte público capaz de mobilizar a população por dentro e relacioná-la com os bairros satélites.
Brasília se moderniza, então, com a entrada incontrolável do automóvel particular que impõe adaptações a seu uso de forma ditatorial e intransigente. O proprietário do automóvel particular, por falta de moderno sistema de transporte público que devia ter sido concebido, desde os primeiros dias, pelo governo com a participação da comunidade brasiliense, impôs adaptações viárias que degradam o ambiente e envenenam o ar que respiramos.
Quatro pontes sobre o Lago Paranoá, às quais seguir-se-ão outras, amplas avenidas sobre áreas de proteção ambiental, triplicação de pistas, alargamento de viadutos, dezenas de estacionamentos que roubam espaços verdes ao pedestre, centenas de semáforos e moderníssimos engenhos eletrônicos de controle da loucura motorizada são obras incessantes. Milhares de placas sinalizadoras, não obedecidas pela maioria dos condutores, engarrafamentos diários, cada vez mais intensos e irritantes, desafiam os nervos do cidadão. Essas adaptações são alguns dos artifícios da modernidade?
A circulação necessária de um milhão de pessoas por dia, no Distrito Federal, depende cada vez mais do milhão de automóveis. As tentativas de diminuir o fluxo de carros, além de tímidas e insuficientes, esbarram em contradições urbanísticas.
Outro elemento de modernização apontado é o do aumento da população com suas demandas sociais. Para atender as demandas sociais da população do Plano Piloto, 390 mil habitantes, há equipamentos e serviços técnicos e modernos suficientes: colégios, universidades, igrejas, hospitais, clínicas, teatros, clubes, supermercados, restaurantes e bares em abundância.
Há que assistir, a exemplo de Brasília, às populações de Santa Maria, São Sebastião, Samambaia e similares, descentralizando equipamentos, métodos e conteúdos de primeira linha como os do Plano Piloto. Não se obrigariam seus habitantes a tomar dois a três ônibus para ir ao trabalho ou buscar um serviço que poderiam ter ao pé da casa, à semelhança dos que vivem em Brasília. Não é esta a mais digna das modernizações?
As demandas sociais devem ser satisfeitas onde reside a população. Não apenas educação e saúde, mas todos os demais serviços públicos do governo e da sociedade incluindo o posto de trabalho. Brasília é um exemplo, um modelo de urbanização e convivência humana a ser desenvolvido em toda a região que a circunda. Brasília é a casa-mãe, a inspiradora de todos quantos a visitam para admirá-la, preservá-la e reproduzi-la em dezenas de cidades-arte na diversidade plurirregional do Planalto Central.

Eugênio Giovenardi
Escritor e sociólogo aposentado da Organização Internacional do Trabalho.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

DA TORRE DE BABEL

AO OBELISCO DA SOBERANIA

As épocas de glória de uma civilização são marcadas por celebrações e eternizadas em monumentos. A grandiosidade do universo incita o pensamento do homem a imitar com seu engenho a magnificência das obras da Natureza.
Templos nos cumes das montanhas, na Grécia, a Torre de Babel – porta de Deus – nas planuras da Babilônia e as pirâmides do Egito selaram a opulência dessas civilizações.
Ostentação, pompa, suntuosidade arrebatam e fascinam. Os gênios criadores e os mecenas patrocinadores de templos colossais, edifícios gigantescos, mausoléus magníficos extravasam seu prazer na concepção arrojada e na concreção da obra exposta aos olhares dos séculos. Seus nomes serão lembrados no curso dos milênios. Só não se faz o registro dos milhares de operários que os levantaram pedra sobre pedra.
É comovedora a disposição do arquiteto Oscar Niemeyer, aos 101 anos, de oferecer a Brasília um obelisco de 100 metros de altura, apontado para além da linha do horizonte. É empolgante o ato criador do arquiteto centenário de projetar-se além do horizonte efêmero da vida.
Talvez seja necessário compreender que esse monumental obelisco é importante para o arquiteto, mesmo que acrescente pouco à sua já consagrada fama. Pode não ser essa sua melhor e mais acabada concepção arquitetônica. Brasília poderá continuar bela e extasiante muitos anos ainda sem esse obelisco. Mas não a Brasília de Niemeyer.
José Saramago continua a produzir livros, mesmo depois de ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura. As obras trazem consigo a autenticidade do escritor premiado. Desdenhar de um livro pós-prêmio pode parecer atitude movida pela inveja ou critica maldosa de algum escritor frustrado.
É sempre ousado dizer, mesmo num tempo de vacas gordas, que uma cidade dispensa monumentos supérfluos e que a literatura prescinde de mais um livro. Na expectativa de criações deslumbrantes, os cidadãos brasilienses poderão emocionar-se com o Mausoléu de Niemeyer dedicado a Juscelino Kubitscheck e ler ou reler o Ensaio sobre a Lucidez, de Saramago.