quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

MINISTÉRIO DA NATUREZA

Por que não reunir num só ministério Agricultura, Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente? Denominar-se-ia Ministério da Natureza e População.
Nenhum desses ministérios existentes se preocupa com a expansão da população e sua localização nos espaços possíveis de serem ocupados. População, em geral, se confunde com consumidores, contribuintes e usuários de serviços essenciais à sobrevivência.
Para esses ministérios e institutos de pesquisa e estatística, o crescimento da população é uma fatalidade regida pela evolução, urbanização, educação e apropriação da riqueza produzida.
Aceita-se, com alívio, a informação de que a taxa média de fertilidade tenha passado de 4 a 1,9%. Reduziu-se a média nacional de filhos por família. Hoje, e por muitos anos, o crescimento da população pobre é e será maior do que a população rica pelo simples fato de que há maior número de pobres do que de ricos no Brasil.
O Ministério da Agricultura e o de Desenvolvimento Rural não dão atenção devida à água e ao meio ambiente. O desperdício de água com irrigação nas grandes culturas é fantástico. A escassez de água nas pequenas propriedades e assentamentos rurais é desanimadora.
Os pedagogos e técnicos de programação escolar inventaram uma palavra que é usada entre os distintos ministérios: a transversalidade. Água, desmatamento, queimadas, agrotóxicos são elementos comuns ao processo produtivo, à ocupação do espaço rural e urbano, à sobrevivência da riqueza natural para uso comum da população.
A transversalidade se torna inócua na tarefa do técnico agrícola que tem metas a cumprir, determinadas pela empresa onde trabalha. O respeito à natureza, a contenção das águas da chuva não figuram nas prioridades de quem recebeu incumbência de aumentar a produção e a produtividade ou distribuir sementes transgênicas e adubos químicos.
Esses ministérios são três rodas soltas. É preciso juntá-las ao mesmo eixo e fazê-las rodar juntas. Um só ministério: Natureza e População é salto qualitativo para um choque de gestão. É pensar para daqui a 50 anos.
Só a população que habita a bacia do Paranaíba, na qual se inclui o Distrito Federal, é, hoje, de 8 milhões de habitantes. Será, no ano 2020, de 18 milhões. Se as dificuldades de acesso à água são difíceis na hora atual, como serão no ano 2020?
Os processos de educação ambiental são lentos e refreados pela obsessão do crescimento acelerado a qualquer custo. Continuaremos a produzir lixo em grande quantidade e jogá-lo no mato; a intensificar a poluição ambiental e a destruição da natureza com milhares de carros rodando pelas estradas.
Precisamos produzir alimentos, respeitando os limites da natureza, na medida das necessidades da população. É o homem que deve se adequar à natureza, não o contrário.
A natureza não precisa da gente. Nós é que precisamos dela.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

LULA E O DESMATAMENTO AMAZÔNICO

Lula minimiza o desmatamento na Amazônia

O Inpe mostra o desmatamento de 3.235 km2.
A ministra Marina da Silva constata a veracidade das derrubadas seguidas de queimadas.
Lula, o presidente, aponta divergências nos dados.
- Tem que sentar e conversar.
O presidente não gosta de conversar em pé. E acrescentou:
- Não pode culpar a soja, nem o feijão, o gado, os sem-terra, não pode culpar ninguém antes de saber o que aconteceu.
O que aconteceu todo mundo sabe.
Dias depois foram encontrados os culpados. Quatro motosserras, cinco machados, uma caixa de fósforos.
Lula, então, cobrou uma investigação rigorosa.

ÁGUA

Água abaixo

Há alguns anos a Organização das Nações Unidas vem alertando que a água potável constitui o problema número um da humanidade no momento atual.
A Organização Mundial da Saúde estabelece um total de 80 a 100 litros de água por dia per capita.
Em São Paulo uma família de quatro pessoas consome 120 litros por pessoa/dia. Nas cidades do interior e no meio agrícola do Nordeste, mesmo com grandes chuvas e açudes sangrando, a quantidade de água potável disponível não chega a 20 litros por pessoa/dia, em média.
Em Brasília, nas espaçosas residências do Lago Sul e Lago Norte gastam-se, em média, 491 litros de água potável por pessoa/dia para lavar carros, regar jardins e suprir as demais medidas de higiene. Dentro de casa, o maior consumo se faz na descarga do vaso sanitário e na ducha.
Em 1960, havia matematicamente 3m3 de água por pessoa. Já em 1990 essa quantidade foi reduzida para 1,2m3. Estimava-se que nas três décadas seguintes – uma delas já passou – a cota por pessoa se reduziria pela metade, ou seja, 600 m3. Isto seria igual a 1,6 m3 por dia, 3 vezes menos do que a média calculada por pessoa, tomando em conta as múltiplas necessidades humanas, a umidade do ar, a realimentação de mananciais, a preservação de reservas naturais.

Águas do Brasil

O Brasil possui 12% das águas superficiais do planeta e está em posição privilegiada. Mas a contaminação pelos agrotóxicos e lixos duráveis avança aceleradamente em proporções quase incontroláveis.
As águas profundas ou subterrâneas, os mares ocultos, mencionados por Euclides da Cunha em OS SERTÕES, em grande quantidade no Brasil, são hoje os mais ameaçados. Para contornar as dificuldades de uso de águas poluídas dos rios e lagos, a exploração das águas profundas tornou-se muito intensa nos últimos cinqüenta anos. “A intensa exploração das águas subterrâneas causa problemas graves, como esgotamento dos recursos e a contaminação dos lençóis freáticos”, alerta o Presidente da Agência Nacional de Águas.
As águas ocultas representam a quase totalidade (95%) da água potável. A outra parcela visível vem de lagos, rios e represas. Um certo comodismo irresponsável está levando ao uso descontrolado das águas subterrâneas para suprir o abastecimento. É um dos equívocos impulsionados pela falta crescente de água e pela urbanização acelerada das médias e grandes cidades. Os poços artesianos não são a solução. O mais urgente é a despoluição e a preservação dos rios e lagos.
A irrigação é um dos mecanismos para produzir mais, em épocas de estiagem periódica em algumas regiões, segundo o clima natural ou por efeito de perturbações climáticas cíclicas. Na medida em que a população cresce e se instala nas cidades, a necessidade de alimentos aumenta. A água é, então, um dos fatores indispensáveis para aumentar a produção agrícola. Crescimento da produção e aumento da população mantêm estreita relação.

Iniciativa da CNBB

Uma campanha de uso racional da água, além de apontar os aspectos emocionais dos riscos de transformar o planeta num deserto, deve trazer a debate público as questões essenciais que envolvem a preservação dos mananciais e a distribuição eqüitativa da água. Água para quem e para quê? Água para produzir alimentos? Quais alimentos? Alimentos para uma população que se multiplica e se acumula nas grandes cidades, levando os governos à obsessão do crescimento econômico sem limites, em detrimento da qualidade da vida humana? As grandes plantações e a contínua abertura de fronteiras agrícolas para obter safras espetaculares com fins de exportação ou criar manadas de milhões de cabeças de animais de grande porte se fazem com sacrifício brutal da natureza virgem, desperdício de água e deterioração dos mananciais. Facilmente se esquece que a produção de peixes e outros frutos do mar são obtidos na água.
Estamos diante de um soberbo dilema: crescimento econômico para alimentar as populações urbanas cada dia maiores ou limite da obsessão compulsiva do consumo, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais com menor aumento da população mundial.
A falta de água e de espaços físicos imporão limites drásticos à humanidade nas próximas décadas.


Eugênio Giovenardi, sociólogo e escritor, autor de OS POBRES DO CAMPO, TOMO Editorial, Porto Alegre, 2003.