quarta-feira, 24 de abril de 2024

MARCO ZERO NO PLANALTO CENTRAL

 

MARCO ZERO NO PLANALTO CENTRAL

 

O marco zero essencial no DF e no Planalto Central está no encontro de dois caminhos – o da cidade humana e o do Cerrado que a acolheu. Andam em direções opostas desde o primeiro encontro. A cidade cresce em população, edifícios, ruas e viadutos. O Cerrado decresce em água, vegetação nativa, biodiversidade não humana. O desencontro desses dois caminhos alerta para uma ruptura temerária e definitiva ocasionando graves sofrimentos para humanos e não humanos. Ao completar 100 anos, Brasília terá poucas alegrias a oferecer aos sobreviventes da catástrofe urbana. Estou feliz por ter salvado 70 hectares de Cerrado para contar a história. Um banho de Cerrado está disponível para quem deseja mergulhar em águas cristalinas.

Imagem: Armazém da água


 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

64 ANOS DE BRASÍLIA

 

64 ANOS DE BRASÍLIA

 

Moro em Brasília, há 52 anos, numa superquadra da Asa Sul. Dia a dia se torna mais evidente que a monumental Brasília, formosa em sua originalidade, afasta e exclui, sem pena, grande parte da vida natural do mesmo ecossistema que generosamente abriga os humanos. Brasília impôs, com o beneplácito de organismos internacionais e nacionais, a supremacia da obra humana, sua corajosa, genial e disciplinada arquitetura, quase suspensa no amplo espaço do Planalto Central. Mas, a devastação do ecossistema do Planalto Central também é obra da genialidade humana. A vegetação nativa que é a essência e a beleza do Cerrado, garantidora das nascentes de água, está sendo cruel e insensatamente extinta.

Brasília, como “urbis” e “cívitas”, parece não ter compreendido a natureza. Os agrupamentos Sol Nascente e Pôr do Sol são testemunhas vivas dessa incompreensão. A expansão de Brasília dominou e modificou a natureza, empobreceu o ecossistema e mutilou a biodiversidade. O humano e o não humano se desconhecem. O humano pende sozinho do galho da árvore da vida e rompe as relações sociais com os frutos não humanos, uns expulsos, outros extintos. A urbanização impiedosa desflorou a natureza em benefício do “anthropos” e rompeu a teia frágil da vida que une, no mesmo espaço geográfico, seres humanos e não humanos. Brasília, cidade-parque e, ao mesmo tempo, cidade-do-automóvel -  se tornou um jardim público no qual seus administradores e seus cidadãos se dão o direito de meter a mão e plantar sua flor preferida. Confesso que, em certos dias e diante de altas e técnicas decisões jurídicas, administrativas, econômicas e ambientais vomitadas sobre Brasília, me sinto como um caçador Neandertal em plena Esplanada dos Ministérios.

 

sexta-feira, 19 de abril de 2024

SOMOS OITO BILHÕES

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SOMOS BILHÕES NO MESMO CAMINHO

 

Perambulo com 8 bilhões de peregrinos entre vales e montanhas de um planeta rodando no espaço.

Aonde iremos? O que vamos fazer às margens do Hades?

Que tenho a dizer-lhes sobre flores e árvores, se nada me perguntam?

Somos estranhos uns aos outros e todos têm seus sonhos, razões de existir, defendem suas verdades, mesmo que a justiça os condene.

Há berços e cemitérios para todos, em terra, mar e ar.

As ruas, as águas, o ar, os espaços estão ocupados.

Todos falam, todos cantam, todos riem, todos choram, todos veem, todos se afastam.

Ouço, ao longe, o coral de oito bilhões de vozes.

 

Foto: Dimytro Varadin, Multidão.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

O PODER PELO PODER

O PODER PELO PODER 

É preciso pensar1 Pensar é preciso! A natureza convida e incita a pensar.

A inteligência, a função perceptiva humana ainda não alcançou a das árvores e dos animais não humanos que coparticipam da regeneração permanente da natureza para sustentação da árvore da vida. O poder discricionário da espécie humana de abocanhar os bens naturais e transformá-los em recursos de propriedade individual é um fator de autodestruição por seus efeitos quase incontroláveis.
O princípio fundamental da sobrevivência dos seres vivos, estabelecido no funcionamento rotativo da natureza, é que a vida se alimenta de vidas, graças aos elementos de um sistema contínuo de relações que a sustentam: água, solo, ar, luz/calor.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

DELÍRIO PARA A SUPREMACIA DA ESPÉCIE SAPIENS

 

DELÍRIO PARA A SUPREMACIA DA ESPÉCIE SAPIENS

Na era do homem, Antropoceno, precisa-se de  um planeta inteligente, exclusivo para o sapiens. Admitidos robôs de cães e gatos. 

"Uma vez que os números dos seres humanos e da riqueza mundial continuam inflando, as pessoas deveriam, entre outras medidas, criar sistemas de energia de zero emissão de carbono; desenvolver, com o apoio técnico da engenharia, safras, árvores, peixes e outras formas de vida; tornar a dessalinização factível em larga escala; reciclar de forma rigorosa, sobretudo os metais fundamentais à vida industrial; ajustar o termostato da Terra para uma configuração segura; e manipular regioalmente microclimas, tudo para colocar em prática a visão deslumbrante de um mundo de dez bilhões de pessoas razoavelmente ricas." (Revista THE ECONOMIST, 2011, in Jason W. Moore, Natureza, história e a crise do capitalismo, 2022).

domingo, 31 de março de 2024

CHUVAS DE MARÇO ▬ ANOS 2013 a 2024

 

CHUVAS DE MARÇO    ANOS 2013 a 2024

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2 

ANOS   MÊS  ▬  TOTAL ANO/ MM

2013 –       411.9                2.255,6

2014 –       326.7                 1.677,5

2015 –       292.2                 1.642,7

2016 -        307.0                 1.921,7

2017 -        298.9                 1.478,7

2018 –       285.2                 1.760.5

2019 –       238.7                 1.069.3

2020 −       244.4                 1.787,8

2021          198.1                 1.710.8

2022 –          61.4                1.279,2 

2023 -        139.2                 1.323.4) 

2024 -        228.5                     961.5 (no ano)

 

SÍTIO DAS NEVES, BR 060, KM 26, DF, EM REGENERAÇÃO DESDE 1974. O Sítio das Neves, completa 49 anos e seis meses em processo de regeneração lenta, gradual e efetiva do ecossistema. O pequeno Sítio das Neves (70 Ha) integra os 48% que restam de Cerrado com vegetação nativa. A vegetação nativa do Cerrado cobria 74% de sua extensão. A área de 70 hectares foi declarada reserva do patrimônio nacional mediante Termo de Compromisso mútuo assinado pelo IBRAM/SEMA/DF, em agosto de 2023, conforme expresso em placa oficial instalada na porteira do Sítio.

Aos que seguem o movimento das águas pluviais durante o ano, ofereço os dados coletados, no mês de março dos últimos 12 anos, pelo pluviômetro instalado no Sítio das Neves pela Agencia Nacional de Aguas (ANA). Os dados refletem a situação pluviométrica de parte da Bacia do Descoberto e Micro Bacia do Ribeirão das Lajes, DF.

O acumulado de chuvas do ano de 2024, é de 961,5 mm ou litros por m2, na região da microbacia do Ribeirão das Lajes, correspondendo a 10,6 litros/dia durante o trimestre. As chuvas, acima de 10 mm, se concentraram em seis dias do mês de março. A capacidade de retenção das águas pluviais, no DF, pode não alcançar um décimo do volume recebido, dada a extensão do desnudamento do solo e impermeabilização urbana.

Os 700.000 metros quadrados do Sítio das Neves receberam, neste mês, 159.950.000 litros de água, dos quais 75% (119,962 milhões de litros) foram retidos pelas árvores e vegetação nativa garantindo a recarga dos aquíferos e a vazão das nascentes. A regeneração do Cerrado depende da capacidade de detenção das águas da chuva pelas árvores e centenas de espécies de gramíneas e ervas endêmicas do bioma. A Biocomunidade do Sítio das Neves não emite, há 20 anos, gases de efeito estufa, além de armazenar carbono sob a vegetação.

 

NO PRIMEIRO GRÁFICO: o mês de março se mantem chuvoso, nos 12 anos referidos, apesar de seis concentrações de grande volume, causando inundações numa cidade “planejada”, não preparada para retenção e esgotamento racional das chuvas. 

 


NO SEGUNDO GRÁFICO: A irregularidade das chuvas no mês de março é patente e sugere aos administradores e à população uma adequação consistente a esse fenômeno. De 411 mm por metro quadrado em 2013 para os minguados 61.4 mm e, 2022, significa que medidas de precaução devem ser tomadas para melhorar a capacidade de captar e reter águas abundantes para os períodos de vacas magras. Desmatamento e impermeabilização do solo são dois pontos a serem rigorosamente revistos.



quarta-feira, 20 de março de 2024

INTELIGÊNCIA CEREBRAL X BURRICE ARTIFICIAL

 

INTELIGÊNCIA CEREBRAL X BURRICE ARTIFICIAL

A inteligência artificial pode ser o caminho mais seguro para a incomunicabilidade da espécie humana.
Transmiti, ontem, o formulário do Imposto de Renda, devidamente preenchido pela Receita Federal. Ela me conhece. Sabe tudo sobre minhas contas, minha idade, o nome do dentista, o seguro de saúde com a MedSênior, os 17 anos de meu carro sem IPVA. Numa dúvida surgida sobre a linha cinco dos pagamentos, uma robôa amável, ao ouvir minha pergunta, enviou-me para um motel eletrônico chamado inteligência artificial. Tive repentina saudade de meus 8 anos! Aos 89, minha inteligência cerebral é invadida por informantes sem rosto, sem CEP, sem nacionalidade. Em outros tempos, a mentira tinha pernas curtas. Hoje, voa! Antesmente, o mentiroso era preso! Hoje, a mentira e a burrice artificial são inimputáveis, anônimas e invisíveis! Amanhã, tenho um encontro internético com a fascinante inteligência artificial da Joyce. Ela não me conhece! Vai ser bom! Vou contar a ela o que a árvore me disse sobre as íntimas relações arbóreas que mantém com o Olho d’Água.